A Saúde Mental, durante muitos anos negligenciada, é parte integrante da saúde, relacionando-se fortemente com a nossa saúde física e comportamento alimentar. Hoje, sabe-se que existe uma ligação bidirecional entre a Alimentação e Saúde Mental.
Um padrão alimentar mediterrânico encontra-se associado a um menor risco de problemas do foro mental, sugerindo o consumo regular de hortofrutícolas, cereais integrais, peixe, aves e produtos lácteos com baixo teor de gordura. Ressalva-se ainda a importância do consumo de leguminosas, frutos oleaginosos e sementes, como estratégia de prevenção primária para perturbações depressivas.
No âmbito da intervenção nutricional, a suplementação quando avaliada a necessidade, de ácidos gordos polinsaturados, nomeadamente ómega-3, vitaminas do complexo B (como o folato e a vitamina B12), ferro, magnésio, vitamina D, deve ser considerada pela ligação clara com a saúde e função cerebral.
Importa ressalvar a crescente evidência do impacto da Microbiota Intestinal na Saúde Mental, pelo seu complexo sistema de comunicação entre o trato gastrointestinal, os microrganismos que a habitam e interação com o sistema nervoso periférico e central, pela produção de neurotransmissores como a dopamina, noradrenalina, acetilcolina e serotonina (…), com influência no estado de humor, comportamento e resposta imunológica.
Um desequilíbrio da microbiota intestinal (disbiose) pode comprometer a síntese destas moléculas, comprometendo a saúde mental.
Dos vários fatores que influenciam a composição da microbiota, a alimentação é sem dúvida um dos mais determinantes, uma vez que determina a disponibilidade de substratos para o crescimento microbiano e influencia o trânsito e ambiente intestinal. A Dieta Mediterrânica associa-se a uma Microbiota Saudável.
Se por um lado a alimentação tem um impacto na saúde mental, o mesmo se verifica no sentido inverso como mencionado primeiramente.
Estados de ansiedade e depressão influenciam diretamente os hábitos alimentares, quer pela ausência ou compulsão alimentar.
A ingestão de alimentos de conforto, caracterizados habitualmente pela elevada quantidade de açúcar (bolachas, bolos, chocolate…), satisfaz momentaneamente o desejo sentido, pelo pico glicémico que provocam. Contudo pela hipoglicemia que lhe sucede, desencadeiam a ingestão seguinte (muitas vezes de forma descontrolada), motivada pela libertação de cortisol, adrenalina, hormona de crescimento (…), relacionadas com estados de ansiedade, irritabilidade e fome. Inerente a esta condição associa-se um maior risco para resistência à insulina e obesidade.
A gestão de emoções é crucial, pelo impacto do estado emocional nas escolhas alimentares, sendo uma equipa multidisciplinar fundamental no processo.
Aproveitar cada refeição, selecionar alimentos prazerosos e saudáveis e saborear calmamente, são premissas primárias para estabelecer uma relação saudável com a alimentação.
Encontrar o equilíbrio sustentável para cada um deve ser o propósito final, de modo a atingir o completo bem-estar e uma boa autoestima, com impacto direto na saúde mental.
O caminho a percorrer ainda é longo, mas a prevenção deve ser a palavra de ordem no que toca à Saúde Mental. Cuide da sua alimentação, cuide do seu corpo e cuide do seu amor-próprio.
Patrícia F. Moreira C.P 4112 Nutricionista