Os gastos com a alimentação passam a ocupar cada vez mais espaço no orçamento dos consumidores e o impacto da inflação faz-se sentir na carteira e na dieta dos portugueses. As consequências refletem-se na saúde da população, havendo uma maior dificuldade em comer de forma sustentável e com menos dinheiro… mas é possível!
Abastecer a despensa com bens alimentares está mais caro desde 2022. O custo de vida agravou-se, mas é nos preços da alimentação que o aperto é mais notado. Um cabaz de bens alimentares essenciais custa, atualmente, mais 15,65€ do que em comparação ao mesmo período do ano passado, o que representa um aumento de 7,55%.
Perante este cenário, 58% dos portugueses alterou os seus hábitos alimentares por causa da inflação. Torna-se ainda mais inquietante o facto de, serem os grupos mais vulneráveis a nível socioeconómico quem apresenta menos consistência com as recomendações para alimentação saudável, bem como uma maior prevalência de doenças crónicas, nomeadamente obesidade (Artigo sobre gordura abdominal) .
Uma alimentação sustentável pressupõe que seja saudável, isto é, variada, completa e equilibrada, mas também que os alimentos sejam sazonais, da época e minimamente processados. Sabe-se agora que as pessoas já não conseguem ir ao supermercado de forma descontraída e comprar o que lhes apetece. Têm de fazer gestão de custos e, como tal, garantir que as compras que fazem são as melhores e satisfazem, com o menor custo, a maior quantidade de nutrientes.
Neste momento de crise, vê-se a oportunidade de diminuir o desperdício (induzindo uma poupança de dinheiro pois aquilo que deitamos fora contou para o orçamento mensal), o recurso à organização das ementas, a produtores locais e a produtos da época. Consiste em fazer uma boa gestão das escolhas alimentares em função da variação de preços. Provavelmente será necessário recorrer a proteínas de fonte vegetal, como leguminosas secas ou de conservas e optar por produtos congelados (que tiveram aumentos menores).
Ter uma alimentação saudável será difícil, mas é possível e não pode deixar de ser uma prioridade. Com o aumento mais notável nos produtos mais saudáveis, nota-se uma inclinação para escolher produtos processados, menos saudáveis por serem mais baratos, no entanto existem outras opções “saudáveis” como nos exemplos referidos acima em alternativa à carne ou peixe fresco que tiveram um aumento maior. Não há necessidade de recorrer a alimentos processados, há sim necessidade de aumentar a literacia e fazer escolhas inteligentes.
Há casos em que os cortes na alimentação já estão a causar consequências na saúde mental e física (Artigo sobre saúde mental) , desde descompensação dos diabéticos, mau funcionamento do trânsito intestinal (Artigo sobre obstipação).
Neste momento encontra-se uma excelente oportunidade para realçar a alimentação mediterrânica, reconhecida pelo seu impacto positiva na saúde.
Nutricionista Rute Oliveira (4764N)